sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Nós nunca vamos parar esse trem

por Luciano Bruno
 
Uma amiga de pouco mais de vinte anos acaba de perder a mãe vitimada por um câncer. Outro amigo casado há pouquíssimo tempo ouviu da esposa um pedido de separação. Outro conhecido foi despedido após mais de vinte anos dedicando sua vida, seus esforços e seus talentos à mesma empresa. Casos como esses, reais, recentes e próximos a mim, fizeram-me e fazem-me frequentemente questionar Deus a respeito da vida. Fosse eu mais simplista, diria apenas que essas coisas aconteceram porque essas pessoas não honraram a Deus ou deram brecha para a ação do inimigo na vida. Mas não é o caso.
 
A verdade é que estamos em um mundo onde coisas ruins acontecem a pessoas boas e que o contrário também é real. A vida é feita de contingências e, por isso, podemos afirmar que nem tudo é da vontade de Deus, portanto, nem tudo acontece do jeito que Deus gostaria que acontecesse. Como escreveu John Mayer na canção Stop This Train, “I know the world is black and white”, ou seja, eu sei que o mundo é preto e branco.
 
Todos nós temos dias em que queremos simplesmente parar a vida. Como diz a canção, vontade de parar esse trem que é a vida, descer e voltar para casa, voltar ao início, antes do sofrimento, antes das contingências, antes das tentações e provações. No Getsêmani, no dia anterior ao da crucificação, Jesus orou ao Pai pedindo que, se fosse possível, o pai livrasse-o daquele sofrimento que estava por vir (Lucas 22.43). É libertador e reconfortante saber que até mesmo o nosso Mestre teve momentos na vida em que simplesmente quis “parar esse trem”. A sequência do texto diz que um anjo do céu lhe apareceu para consolá-lo. Não acredito em literalidade, mas sim que o anjo do céu fosse simplesmente o próprio Espírito de Deus que consolou o seu coração naquele momento, da mesma maneira que acontece hoje. Nas vezes em que queremos parar esse trem, há um Espírito que nos consola.
 
A conversa de Jesus com seu pai no dia anterior ao da crucificação até me faz lembrar da conversa de John Mayer com seu pai na canção Stop This Train. No momento em que John conversa com seu Pai, ele aprende que nunca poderá parar esse trem. E no momento em que Jesus conversa com o seu e nosso Pai, ele entende que, acima de tudo, aquele era o momento de cumprir a missão que lhe havia sido proposta, a de dar a sua vida em favor de muitos.
 
Para quem anda com Deus, em retidão, santificação e serviço, o sofrimento é a exceção, tragédia não acontece todo dia, há mais maçãs boas do que maçãs ruins no cesto. No entanto, não teremos aqui na Terra uma carta de alforria do sofrimento. Qualquer pregação do Evangelho que exclua o sofrimento deve ser rejeitada.
 
No final da música de John Mayer, ele descreve a felicidade de estar com a família e com as pessoas que ama, todos bem, e podemos sentir que tudo está acontecendo como deveria ser. Mas ele aprende que mesmo assim vai chegar o momento de chorar e aí poderemos ver e saber, com certeza, que nunca poderemos parar esse trem. Essa é a realidade, mas há a promessa bíblica de que sempre teremos um Consolador a nos consolar.
 
Não deixe de assistir ao vídeo abaixo e ouvir a música prestando atenção na letra legendada em português. É interessante que até mesmo a sonoridade dada pelo jeito muito peculiar de Mayer tocar o violão é como se fosse um trem em movimento. É genialidade, musicalidade, ensino, reflexão e uma pitada de evangelho (ainda que inconsciente) presente em uma só canção!
 
 
 


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