sexta-feira, 8 de junho de 2012

Pregadores nas Mãos de um Deus Irado


por: Vinicius O. S. Guimarães

"Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas" (2 Timóteo 4:3-4)

Há alguns séculos atrás Deus levantou um homem que transformou a perspectiva teológica conhecida até então, chamava-se: Jonathan Edwards (1703-1758). Em 8 de julho de 1741 em Enfield, Connecticut (Estados Unidos), ele proferiu o famoso sermão: “pecadores nas mãos de um Deus irado”, causando um impacto inesquecível naqueles que ouviram. Atualmente este sermão tem sido publicado em várias línguas, trazendo proveito espiritual a milhares de pessoas em toda parte do mundo.
Do século XVIII até a era presente vários oradores parafrasearam o sermão de Edwards aplicando-o nas mais diversas situações eclesiásticas e teológicas, a exemplo temos: “Deus nas mãos de pecadores irados”, “Pecadores nas mãos de um Deus muito irado” e etc. Contudo, a vivencia na sociedade pós-moderna oriunda dos caprichos do século XXI nos leva a um vislumbre nebuloso de “pregadores nas mãos de um Deus irado”.
A leitura do cenário pós-moderno revela que a desnutrida formação teológica dos pregadores tem contribuído substancialmente para que as heresias e aberrações se tornem rotinas no seio eclesiástico. A raquítica e superficial educação bíblica ministrada nas igrejas só tendem a acentuar o problema. A falta de incentivo hermenêutico por parte da liderança corrobora e acelera as manifestações de abusos ministeriais.
Na “crista da onda” das heresias encontra-se a Teologia da Prosperidade. Pode ser entendida como um conjunto de princípios que afirmam que o cristão verdadeiro tem o direito de obter a felicidade integral, e de exigi-la através de decretos e ordenanças. Segundo os adeptos desta linha de pensamento, Jesus veio ao mundo pregar o Evangelho aos pobres justamente para que eles deixassem de ser pobres.
Tudo começou com Essek William Kenyon (Nova York, EUA, 1867), ex-pastor das igrejas batista, metodista e pentecostal, que influenciado por idéias de seitas cristãs/metafísicas, desenvolveu estudos que entre outras coisas tratava de: poder da mente, a inexistência das doenças e o poder do pensamento positivo. Posteriormente, entra em cena Kenneth Hagin (Texas, EUA, 1918), discípulo fiel de Kenyon. Sofreu várias enfermidades e pobreza na juventude. Contudo, aos 16 anos diz ter recebido uma revelação quando lia Mc 11.23,24, entendendo que tudo se pode obter de Deus, desde que confesse em voz alta, nunca duvidando da obtenção da resposta, mesmo que as evidências indiquem o contrário.
A “Santa Igreja Evangélica” tem pregado doutrinas que assemelham (para não dizer que copiam) das: católico romanas, judaicas, espíritas e até mesmo umbanda. O pior é que os membros, conselhos ministeriais e assembléias gerais parecem fazer vista grossa frente à tamanha distorção bíblica. Em meio a este sincretismo religioso disfarçado de novas estratégias para o crescimento da Igreja percebe-se um estupro dos ensinos de Cristo Jesus. Tal realidade é uma agressão moral ao caráter de Deus.
Os cultos giram em torno de temas como: dinheiro, demônios e enfermidades. Pode-se freqüentemente observar práticas pagãs, bastante comuns no catolicismo popular e mesmo na umbanda, como distribuição de "fitinha da prosperidade", "sal grosso", “sabonete da purificação”, “espada da vitória”, “chaves do sucesso”, “rosas ungidas”, “cruz do triunfo”, lenços, rituais de descarrego com "arruda" para dar sorte, água benta, óleo ungido etc.
A igreja “picadeiro de Jesus” também não fica para traz. Os pregadores só faltam se vestirem de palhaços, pois as piadas e os showzinhos já acontecem normalmente nos púlpitos. O termômetro que ajusta a aceitação do sermão são as gargalhadas eufóricas da platéia. A cada domingo a preocupação é aprender novas piadas para não cansar as pessoas com as mesmas crônicas. O louvor também aproveita o picadeiro aberto para lançar as mais loucas músicas. Assim, o circo está armado e por algumas horas tudo se resume no bem estar dos ouvintes. E Deus? Ah! Deve estar lá na última fileira de bancos apenas olhando e tentando descobrir do que as pessoas tanto riem daquele que deveria ser Seu porta-voz.
A triste realidade de pregadores que inquestionavelmente mais se parecem com animadores de palco tem sido comum, até mesmo nas mais conservadoras denominações. A liturgia dos cultos está sendo assassinada, dando espaço para shows no mínimo esquisitos. As músicas outrora inspiradas por Deus sedem espaço para plágios de sucessos do meio secular, mudando apenas a letra para não “escandalizar”. A Escola Bíblica Dominical perde ibope, pois o foco não mais é ensinar, mas sim empolgar as platéias com mega produções impressionistas.
A Igreja “fast-food” é a moda do momento. Os estudo teológicos que antes eram de quatro anos se resumem agora a meros meses. Os ensinos bíblicos sedem lugar para lições levianas da famosa super legalidade hierárquica. O pensar se condiciona à vontade do cacique da Igreja. A reação provocada por atitudes como as mencionadas anteriormente é de fácil percepção. Contudo, a miopia oriunda da falta de educação teológica tem dificultado o amadurecimento eclesiástico.
O terrível diagnóstico pós-moderno eclesiástico não cessa. Talvez como golpe final no que ainda restou de dignidade na igreja contempla-se um estilo de pregação cada vez mais crescente: os anti-teologia e anti-missões. A falta de incentivo ministerial e financeiro para com os seminaristas retrata o perfil dominador-medroso dos lideres. A decorada justificativa de não se ter recursos para sustentar missionários no campo reflete tão somente o quanto a Igreja está longe do propósito de Deus.
A grande verdade por detrás deste pano de fundo é que Deus tem tolerado a Igreja Evangélica. Haverá um tempo onde o próprio Deus há de intervir derramando juízo sobre os Seus. Quando este dia chegar contemplaremos a apavorante e assombrosa visão de “pregadores nas mãos de um Deus irado”.
"Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue. Porque eu sei isto que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não pouparão o rebanho; e que de entre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si"
(Atos 20:28-30)
 
Que Deus nos ajude!

*Vinicius O. S. Guimarães ( vinicius@tocandoasnacoes.comEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email ) é natural de Goiânia – Goiás – Brasil, casado com Priscilla Dayana A. B. Guimarães. Escritor dos livros “Conversão – uma mudança de vida”, “A Bíblia fazendo história”, “Lições do Maestro” e “Pescadores de Vidas”. Bacharel em Teologia com concentração em Missiologia pelo Seminário Teológico Evangélico do Betel Brasileiro (STEBB), bacharel em Administração Geral pela Universidade Católica de Goiás (UCG), especialista em Estudo da Bíblia pela Faculdade Evangélica de Teologia de Belo Horizonte (FATE-BH), especializando em Docência Universitária pela Faculdade de Goiás (FAGO), mestre em Ministério com concentração em liderança pela Faculdade de Teologia Evangélica da Igreja de Deus (FATEID). Colaborador da Revista Linha Aberta (Florida – USA), membro da Associação de Professores de Missões do Brasil (APMB), presidente da Missão Tocando as Nações (MTN) e pastor da Comunidade da Fé (COFE) em Goiânia. Atualmente leciona na Faculdade de Teologia Evangélica da Igreja de Deus (FATEID), no Seminário Teológico Evangélico do Betel Brasileiro (STEBB) e no Instituto Unificado de Ensino Superior OBJETIVO.



Nenhum comentário:

Postar um comentário