sexta-feira, 18 de maio de 2012

Insignificante


"Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus." (Mateus 5:3 e 10)

Você conhece alguém insignificante? Não me refiro àquelas pessoas indesejadas ou rejeitadas por terem cometido uma atrocidade ou falado, pensado e agido de uma forma reprovável. Como por exemplo, Adolf Hitler, líder alemão gênocida dos judeus. Estou escrevendo sobre pessoas insignificantes que o dicionário definiu como: “Que não tem valor, reles e pessoa sem importância”. Você já se sentiu assim, sem valor, um reles ou uma pessoa sem importância? Mesmo tendo acabado de realizar algo legal e significativo. Já carregou algum desses sentimentos ainda que não tenha matado, roubado, difamado, explorado e enganado, mas pelo contrário, tenha agido de forma decente e coerente.

A alguns anos atrás num domingo, depois de ministrar uma aula da escola bíblica dominical na igreja que congregava, encontrei um “conhecido” dos tempos de adolescente. Dirige-me até ele para cumprimentá-lo, e o que recebi foram calunias e comentários preconceituosos. O cidadão estava sentado na porta da igreja com várias pessoas ao redor, algumas delas conhecidas e outras não. De início ele soltou o seguinte: “E aí não cresceu nada em “nânico”, você tem pelo menos um metro e dez centímetros de altura”. Após essa fala uma boa seqüência de risos e curtições dos companheiros do “conhecido”. Em seguida outra: “Dando aula em Escola Bíblica Dominical isso é coisa para mulher panaca”; mais risos e deboches. E o grand finale: “Pó cara, até hoje você não casou! Mas quem vai querer um hominho como você!”; mais risos, deboches, curtições e coisas semelhantes.

O olhar daquele “conhecido” é algo difícil de sair da cabeça. Um olhar carregado de maldade, preconceito, arrogância, prepotência e superioridade. É bem verdade que me olhar por cima, não é difícil, pois os poucos, e para mim significativos, um metro e sesssenta centímetros de altura, sempre fica "à abaixo da media”. Acostumei-me a olhar para cima, onde “os normais” pessoas dentro de uma estatura mediana “normal” estão. Aprendi a relevar e conviver com brincadeiras, curtições e situações indesejadas como as daquele domingo de manhã. Quantos obesos, afro-descendentes, portadores de necessidades especiais e outras pessoas são alvo desse tipo de preconceito e passam por situações semelhantes a que passei diariamente.

Aquele domingo era um dia difícil. Peguei o ônibus para casa me sentindo um palito de fósforo riscado jogado na privada de um banheiro de rodoviária (talvez esteja dramático demais). Horas mais tarde saberia que meu avô materno, com Mal de Alzheimer avançada, séria internado as pressas por insuficiência respiratória, vindo há falecer alguns dias depois, e que um amigo de longa data, com pouco mais de trinta anos morreria num acidente automobilístico. Os dois, assim como tantos outros, sempre me trataram com respeito, carinho e igualdade, apesar de eu ser baixinho, coisa que para o “conhecido” na porta da igreja é deplorável e reprovável. Já passei várias vezes, por esse tipo de situação, entretanto naquele dia devido uma somatória de problemas e tristezas, me senti um ser insignificante, solitário e sem competência pelo fato de estar até o momento solteiro.

Até que ponto somos significantes, importantes e relevantes para as pessoas? Em nossas famílias, normalmente, ocupamos posições indispensáveis e até insubstituíveis. Mas e quando estamos fora do nosso ambiente familiar, no dia-a-dia, na hora de concorrer há uma vaga de emprego, buscar uma posição melhor na empresa que estamos trabalhando, conseguir uma vaga de estagiário e disputar o coração de uma garota, quem é mais significante? As oportunidades são dadas de forma igual ou algumas pessoas são privilegiadas por serem “bonitas” (de acordo com padrões estabelecidos pela nossa “igualitária” sociedade) ou contam com a influência, amizade e/ou parentesco de uma pessoa influente ou com poder e riqueza?

O ser humano é naturalmente mal e destrutivo! O “conhecido” estava na porta de uma igreja cristã; local onde a fraternidade, a igualdade, o respeito, a paz entre as pessoas e o amor ao próximo, deveriam atingir a todos que estivessem ali envolvidos; porém, ele não excitou em fazer o contrario e difamou, humilhou e maltratou. Até onde vai o nosso preconceito, intolerância, arrogância e soberba. Quantos feridos, maltratados, rejeitados, difamados, caluniados, excluídos, humilhados, ofendidos e decepcionados estão por aí, e quantos desses fomos nós que provocamos ou contribuímos para que ficassem assim.

“Se enxerga!”, “Você sabe com quem esta falando?”, “Você não é bem vindo(a) nesse lugar!”, “Você não tem o perfil que buscamos para essa vaga de trabalho!”, “Quem você pensa que é?” e “O coisinha, irmãozinho, não podemos te atender agora!”. Essas são algumas frases, de inúmeras outras, que são corriqueiramente usadas para demonstrar que uma pessoa é insignificante. Qualquer uma dessas frases, somando-se a um olhar de superioridade e arrogância, provoca profundas feridas e magoas.

Tranquilizo-me e renovo minha paz interior na convicção de que – mesmo quando ninguém me valoriza, ou só me valorizam por ter formado numa faculdade de destaque, ou quando me humilham literalmente falando, como fez o conhecido – tenho Amigos verdadeiros (não muitos, mas verdadeiros) e Família (maravilhosa e carinhosa), neles sou valorizado, respeitado e amado.

Mas, acima de tudo tenho Jesus Cristo. Ele, que nos momentos mais difíceis, me ensinou a ter fé diante de impossibilidade, esperança contra as angustias, paciência com as pessoas, perseverança na busca de meus sonhos e alegria mesmo quando névoas de tristeza estão ao meu redor. É Cristo que me mostra o quanto a disciplina é um instrumento para progredir nos meus propósitos. Ele me dá coragem para seguir enfrente e buscar as desafiadoras respostas, e, acima de tudo, que me ensina o caminho do amor, por mim mesmo e por Todos que minha visão atingir com ações, orações e dedicação.

Jesus que em todo tempo olho por todos, tratando cada um de forma igual e imparcial. A sua missão ou seu alvo são as pessoas e quase sempre essas eram excluídas, rejeitadas, indesejadas e insignificantes. Nele encontramos a força e esperança na caminhada da vida muitas vezes dura, difícil e dolorosa.

De que forma escolhemos viver os relacionamentos diários que desenvolvemos? Agindo como o “conhecido” fez, ou propagando as boas novas e o amor ao próximo como Cristo Jesus fez. Que possamos “Olhar com o olhar de amor de Jesus. E sentir como coração amoroso de Jesus sentiu”.
Na dependência do Senhor.

Leonardo Felipe.
“Este meu ser insignificante mas pleno de significado, teve no aluno mais errante o que de melhor há no aprendizado,o amor.” (Lúcia Helena de Miranda Gomes)






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